
O que vi:
Vi de tudo nesta vida.
Não que a tenha vivido intensamente, ou que eu seja auto de data.
Sou quieto. Apesar de sempre ter considerado isso um defeito,
Vejo-me grande, mesmo que não o seja.
Vi o sol frio e a lua quente.
Vi nuvens densas em dias de pipa
Vi pessoas vazias se sentindo cheias
E, cheias, se sentindo vazias.
Vi cantos nobres em ruas escuras
Homens bons escondidos dos holofotes
Vi marchas firmes, em prol do nada
Mas também vi o nada tornando-se tudo
Vi o perdão triunfar em meio à guerra
A guerra perdoar mais que monges
Vi santos se contaminando
E contaminados tornando-se puros
Vi fortes se fazendo de fracos
Fracos se fazendo de fortes.
Pés delicados alçando duros chãos
Outros cascudos deliciando-se em massagens de areias do mar
Vi a morte triunfar sobre a vida
E a vida desbaratar a morte
Os avós aprendendo com os netos
Mas vi filhos tão quanto sem almas
De tudo que vi, nada vi; Tudo cri.
Às vezes sem ter,
Às vezes sem amar,
Às vezes sem andar
Mas tudo tive, tudo pude, tudo fiz.
O que não fiz não posso dizer que foi omissão.
Pois dum coração apaixonado, tudo pode se esperar
Menos ser intrometido.