sexta-feira, 31 de maio de 2013

Doce delírio matinal - Salomão Moura




Jogo sobre ti doces palavras
Com a esperança lúbrica de possuí-la um dia
Me obrigo a pensar nos mistérios profanos
De tua formosura
Que me fascina e me atormenta
Não hei de descrevê-la, comparando-te
Às flores, ao céu supremo ou a qualquer
Recurso fútil da natureza
–És maior que tudo isso, força divina!
Assemelho-te a um anjo de meus sonhos
Juvenis, vestida de negro com teu corpo
Liricamente desenhado e suas formas 
Simétricas que não se encontram em
Nenhum livro de anatomia.
Tocar-te é como apalpar a virtude fluente
Da lua cheia, transbordando teu prazer
A ponto de vê-la flutuar, libertando-se
Da gravidade, que não te podes possuir
É tu a energia sublime que transcende
Cada poro no calor do teu corpo quente,
Tão quente quanto das labaredas faiscantes
De uma lareira no mês de maio.

Salomão Moura

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Desmaterialização dos porquês - Kássio Rodrigues


Por você:
Me acertaria; em acertos; num penhasco - numa correta especificação de poderio de morte - certa certeza, condoer-me-ia em certidão de aprazes, me concertaria; ao molde do bem-querer, àquele sonho do cavalo branco trazendo o ideal, principesco principal do princípio programado. Porque te amo. Por que não me amas também? O porquê disso tudo se arrasta no infinito da solidão... Saudades só têm graça nestas minhas palavras que criptografam meus devaneios, por quê?

Kássio Rodrigues

terça-feira, 21 de maio de 2013

1 minuto de silêncio pela morte do meu ego - Kássio Rodrigues

1 minuto de silêncio pela morte do meu ego:

René Descartes (1596 - 1650) - Autor da frase: ''Penso, logo existo!''.

Sendo ainda cedo, reluto ao calor de meu leito, numa alusão ao camuflar da humanidade num dia normal, secular, de trabalho.
Busco dentro de mim, motivos aquém, de passear uma perna após a outra ante meu velho e popular carro.
Louvo uma canção de sorte; daquelas que representam o que não sou, mas que gostaria de ser.
Rabisco uma casinha de três colunas no caderno de anotações, como uma busca infinita e disfarçada, pela infância que vendi a troco de nada.
Ainda é cedo, e o sol já zomba da minha cara, levando meus desencantos ao compasso da música da cidade: carros, trens, motos, buzinas....
Ahhh, essas buzinas! São tão ligeiras, que às vezes repenso se convivo mesmo numa sociedade de humanos desumanos, e se realmente existo. Mas, se penso, logo existo!
E, se existo, gostaria de saber do porquê de ser invisível aos teus olhos.

Por: Kássio rodrigues

terça-feira, 14 de maio de 2013

A princesa Almática - Kássio Rodrigues



        Sentada à beira do Rio, murmurava cânticos almáticos ao vento. Encolhendo os joelhos aos seios, se abraçava amorosamente sonhando o impossível. Com olhos de ´´Japonês´´, admirava a formação da nuvens enquanto o sol se punha: via cavalos voadores, monstros de um só olho. Até que viu seu pai. Não quis se autoindagar do porquê da visão, nem ser pragmática ao ponto de deixar de sonhar. Ficou ali, o tempo que lhe restou, até que o vento cantarolando a distraiu, enquanto deformava a nuvem numa bruxa caolha. Ao retornar sua visão, não se assustou de não tê-lo mais ali; estava acostumada com as pessoas sumirem ao ser amadas; assustou-se com a bruxa caolha; uma visão bem retorcida que guardara de sua madrasta, que desapareceu após a misteriosa morte de seu pai, levando tudo que ele tinha.

Enquanto se refazia do dia trabalhoso que findara, continuava remoendo antigas cantigas, que ouvia todas as noites antes de dormir. O sol já se escondia em passos largos, dando lugar à lua, tenebrosa, charmosa e voraz. Seu coração estava tão quebrantado, ao ponto de não haver mais ânimo para viver... Se sentia só, abandonada... Mas não desistira: almejou um plano sagaz, amou seu jovem amor, trilhou terras de dragões, reconquistando tudo que um dia foi seu por direito de herança. Tudo estava bem, tudo estava sólido. Mas, às tardes estias, se debruçava copiosamente em cima de si mesma, cantarolando cânticos almáticos ao vento, dia após dia...

Por: Kássio rodrigues

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Fastio desassossegado - Kássio Rodrigues

       

Eis-me aqui em minha razão; travestida de sentimentos, recalcada de lealdade e chamuscada de seriedade, vinda montado num burro chucro, selado de cansaço, rebuscado de amor; numa força tamanha, numa insensatez imensurável.

       Não quero ouvir conselhos de nostálgicos mágicos ou ilusionistas. Pessoas nas quais enforcaram-se na corda do amor. Pessoas nas quais, saíram do cativeiro,
Trocando o calor de sua amada, por frestas de luzes que pareciam boas à alma. Isso eu já fiz! Isso já vivi e, não quero aconselhar pessoas, num grito desesperador pela minha redenção, porque isso é ilusão.

       Por mais que cante, por mais que escreva, nunca transmitirei àquela menina, um resquício da minha dor. Deve estar aí, o motivo da separação da alma e do corpo: caso tivesse em minha voz, solidez ao ponto de gritar àqueles ali na beira do mundo precisando de luz, gritaria em notas proibidas: volte, e entenda duma vez por todas: seu amor é seu e de mais ninguém.

      Cancelei agora meu status de ´´superado´´, assumo daqui em diante, sem medo de ser inundado por minhas más escolhas. Pode sair de cena, ó fadiga! Saia de cena, ó cotidiano! Agora sou eu quem decide e, decido por mim mesmo..., ... ou melhor, decido isso depois...

Por: Kássio rodrigues

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Passos próximos - Kássio Rodrigues

Ah, passos próximos!
Pudera eu, prever suas ilicitudes; não me culparia futuramente - como me faço hoje - pelas más decisões. Quem sabe, nas culpas e devaneios hão de estar portadas o antídoto para a minha autocrueldade; porque só o que sei fazer é, descrer do lado ruim da vida; do fracasso, do erro, das percas.
(...) São  tantos maus adjetivos que, traspassam a beleza de ser um eterno aprendiz. Caro eu, não se deixe ser dominado por isso.

Por: Kássio rodrigues

Vídeo, música: '' Tempo Perdido''- Renato Russo. Interpretação por Kássio Rodrigues:




Por: Kássio rodrigues

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Filtro Solar - Mary Schmich




Senhoras e senhores da turma de 2003:
Filtro solar!
Nunca deixem de usar o filtro solar
Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta:
Usem o filtro solar!
Os benefícios a longo prazo
Do uso de filtro solar estão provados
E comprovados pela ciência
Já o resto de meus conselhos
Não tem outra base confiável
Além de minha própria experiência errante
Mas agora eu vou compartilhar
Esses conselhos com vocês...

Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude.
Ou, então, esquece...
Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado.
Mas pode crer, daqui a vinte anos você vai evocar as suas fotos
E perceber de um jeito que você nem desconfia, hoje em dia, quantas, tantas alternativas se escancaravam a sua frente
E como você realmente tava com tudo encima
Você não tá gordo, ou gorda

Não se preocupe com o futuro.
Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que preocupação
É tão eficaz quanto mascar chiclete
Para tentar resolver uma equação de álgebra.

As encrencas de verdade da sua vida tendem a vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada
E te pegam no ponto fraco às 4 da tarde de um terça-feira modorrenta
Todo dia, enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade.
Cante.

Não seja leviano com o coração dos outros.
Não ature gente de coração leviano.
Use fio dental.
Não perca tempo com inveja.
Às vezes se está por cima,
Às vezes por baixo.
A peleja é longa e, no fim,
É só você contra você mesmo.
Não esqueça os elogios que receber.
Esqueça as ofensas.
Se conseguir isso, me ensine.
Guarde as antigas cartas de amor.
Jogue fora os extratos bancários velhos.
Estique-se.

Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida.
As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam,
Aos 22, o que queriam fazer da vida.
Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem.
Tome bastante cálcio.
Seja cuidadoso com os joelhos.
Você vai sentir falta deles.

Talvez você case, talvez não.
Talvez tenha filhos, talvez não.
Talvez se divorcie aos 40, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante.
Faça o que fizer, não se auto congratule demais, nem seja severo demais com você.
As Suas escolhas tem sempre metade das chances de dar certo, é assim pra todo mundo.
Desfrute de seu corpo, use-o de toda maneira que puder, mesmo!
Não tenha medo do seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele
É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir.
Dance! Mesmo que não tenha aonde além de seu próprio quarto.
Leia as instruções, mesmo que não vá segui-las depois.
Não leia revistas de beleza, elas só vão fazer você se achar feio!


Dedique-se a conhecer os seus pais.
É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez.
Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado
E possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.
Entenda que amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns poucos e bons.

Esforce-se de verdade pra diminuir as distâncias geográficas e de estilos de vida.
Porque quanto mais velho você ficar, mais você vai precisar das pessoas que conheceu quando jovem
More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer.
More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer.
Viaje.

Aceite certas verdades inescapáveis: os preços vão subir, os políticos vão saracotear, você, também, vai envelhecer.
E quando isso acontecer..
Você vai fantasiar que quando era jovem os preços eram razoáveis,
Os políticos eram decentes
E as crianças respeitavam os mais velhos.
Respeite os mais velhos. E não espere que ninguém segure a sua barra.
Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada,
Talvez case com um bom partido, mas não esqueça que um dos dois pode de repente acabar.

Não mexa demais nos cabelos, senão quando você chegar aos 40, vai aparentar 85.
Cuidado com os conselhos que comprar,
Mas seja paciente com aqueles que os oferecem.
Conselho é uma forma de nostalgia.
Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo,
Repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.
Mas no filtro solar, acredite!


segunda-feira, 6 de maio de 2013

O primo Basílio - Eça de Queiroz


... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!

Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela... Que linda manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranqüilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora. Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho.

Candidez - Kássio Rodrigues





Pudera eu, voltar à infância, onde não havia o mal e, a pureza era tudo que tínhamos. Hoje, não há pureza, e a maldade, é tudo que temos em mãos. 

Os que vivem pensando, não são os mesmos quem pensam para viver. Estes, planejam a própria dor. Àqueles, já não há mais cura.
Antes mesmo da luz do meio-dia, e do crepúsculo, já se tornam obscuros; adestrando a própria alma a não corresponder às expectativas do espírito. E, este último, é definido de tempo em tempo, de acordo com as circunstâncias: espírito calmo; alma angustiada. Espírito são; alma borracha; excesso de dopo.

Por: Kássio rodrigues