terça-feira, 14 de maio de 2013

A princesa Almática - Kássio Rodrigues



        Sentada à beira do Rio, murmurava cânticos almáticos ao vento. Encolhendo os joelhos aos seios, se abraçava amorosamente sonhando o impossível. Com olhos de ´´Japonês´´, admirava a formação da nuvens enquanto o sol se punha: via cavalos voadores, monstros de um só olho. Até que viu seu pai. Não quis se autoindagar do porquê da visão, nem ser pragmática ao ponto de deixar de sonhar. Ficou ali, o tempo que lhe restou, até que o vento cantarolando a distraiu, enquanto deformava a nuvem numa bruxa caolha. Ao retornar sua visão, não se assustou de não tê-lo mais ali; estava acostumada com as pessoas sumirem ao ser amadas; assustou-se com a bruxa caolha; uma visão bem retorcida que guardara de sua madrasta, que desapareceu após a misteriosa morte de seu pai, levando tudo que ele tinha.

Enquanto se refazia do dia trabalhoso que findara, continuava remoendo antigas cantigas, que ouvia todas as noites antes de dormir. O sol já se escondia em passos largos, dando lugar à lua, tenebrosa, charmosa e voraz. Seu coração estava tão quebrantado, ao ponto de não haver mais ânimo para viver... Se sentia só, abandonada... Mas não desistira: almejou um plano sagaz, amou seu jovem amor, trilhou terras de dragões, reconquistando tudo que um dia foi seu por direito de herança. Tudo estava bem, tudo estava sólido. Mas, às tardes estias, se debruçava copiosamente em cima de si mesma, cantarolando cânticos almáticos ao vento, dia após dia...

Por: Kássio rodrigues

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