Pobres policiais... Não tiveram conhecimento do mal que os aguardava com desejo voraz de vingança quando tudo aconteceu tão rápido e ao mesmo tempo tão devagar, que puderam ouvir suas próprias respirações. Aliás, apenas um pôde, e foi aquele que deveria ter sido a única vitima de um homem tão cruel e frio, que passou a passos lentos, para ver sua presa no chão todo cheio de sangue e com os olhos esbugalhados de pavor ao ver que acabara de perder as duas pernas. Pudera! Estava cumprindo sua missão, sua ronda de rotina, e não esperava encontrar aquele pedaço de mão jogada no chão, toda ensanguentada, e aquele rapaz chamando a viatura para averiguar o que seria aquilo. Nunca viu uma mão tão grande daquele jeito. Se bem que nunca vira uma mão cortada antes e ainda por cima faltando dois dedos. Quem a deixara ali? Ninguém seria tão idiota de cortar a própria mão e jogar na rua.
Aquilo era um crime bárbaro cometido por algum psicopata doente, e esse policial saberia como lidar com aquilo, pois lidava com psicóticos o tempo todo. Não seria difícil achar. Pra ele era só mais um caso, mais uma vítima, mais uma medalha, mais oportunidade de ficar famoso na mídia como “o homem por quem os psicopatas se rendem”. Nada melhor do que descer da sua viatura e ver as pessoas dizendo seu nome em admiração plena e respeito ao abrir caminho e deixar o verdadeiro mestre trabalhar. Ao ver que havia uma pequena multidão ali fotografando, expulsou a todos e pediu distancia aos que não se foram. Logo chega outra viatura, que seria desprezada pelo herói que já estava ali para tentar solucionar o crime, mas foi logo se aproximando e fechando a esquina, para expulsar as pessoas que ainda estavam ali, sendo que fizeram um V para proteger a esquina de pessoas, ficando cercados os quatro policiais. O policial olhou a mão com cautela, e pôde perceber uma escritura, como que tatuada. Não podia ver direito, pois estava de cabeça para baixo. Pegou um pequeno graveto e virou a mão ao contrário. Não se admirou com a palavra. Não ainda. SAUDAÇÕES, em letras góticas. Foi quando olhou para a mão e viu uma seta feita com dedo no sangue. A seta apontava pra trás do policial. Ele olhou para trás e não viu nada, mas fixou os olhos na parte de trás com medo de que algo acontecesse ali. Pensava; alguém sabia que eu estaria aqui e agora, mas quem poderia ser? E foi quando aconteceu aquele de já vu, em câmera lenta. Viu passar pela esquina um rapaz familiar. Provavelmente já o prendera. Prendeu várias pessoas em seu tempo como policial e sempre teve provas para prender qualquer um que quisesse, mesmo que pra isso precisasse forjar as mesmas. Talvez aquele rapaz tivesse sido preso injustamente. Olhou para a mão faltando dois dedos e se lembrou de um jovem que encontrou na rua de madrugada e o espancou, junto com seu parceiro. Lembrou-se de ter chutado o rapaz, de ter quebrado dois dentes, se lembrou de tê-lo humilhado, se lembrou de ter puxado o canivete passado na garganta do rapaz, mas o mesmo tentou proteger o pescoço e acabou perdendo dois dedos. O policial, assustado, fugiu enquanto o pobre rapaz, estudante de direitos humanos, gritava de dor e agonia enquanto via a mão sangrando sem seus dois dedos. No outro dia, o mesmo rapaz fora preso dentro de sua casa com duas onças de heroína dentro do guarda-roupa, e foi alegado pela polícia que o rapaz havia sido violentado por outro traficante da região. O rapaz foi preso e ficou dois anos dentro de uma cela, onde fez várias tatuagens pelo corpo. Ele próprio fazia as tatuagens. Um homem calado, sem expressão, apenas ouvia falar que o policial que o prendera estava ficando famoso por prender psicopatas. Psicopatas que saíam daquela mesma cadeia, com o propósito de ferir um policial que provavelmente os torturava. Lá estava o policial olhando para uma mão com três dedos e entendendo o enredo e o espetáculo de um homem tomado pelo ódio. Não era mais um psicopata. Era um homem justo querendo vingança, e que usou a mesma frase que o policial usara quando o jogou na cela imunda e lhe cuspiu na face; Saudações, bem vindo ao inferno! Um homem que adorava o sentimento de brutalidade. Que ignorava as pessoas. Que andava com seu parceiro, mas preferia andar sozinho. Agora via um rapaz passando pela rua sem saber de onde o conhecia. As duas mãos no bolso, o olhar em sua direção sem nenhuma expressão caminhava tão lentamente que sua mente não conseguia compreender. Porque não conseguia encaixar as coisas? O que faltava na peça daquele quebra-cabeça? Três dedos. Os três estavam esticados pra cima: o médio o anular e o mínimo – sendo que o polegar e o indicador haviam sido cortados. O que representaria? Seriam três chances? Três vezes? Lembrou rápido ao ver as tatuagens nos três dedos com as palavras: VOCÊ VAI MORRER escritas cada uma em um dedo, mas fora de ordem: MORRER VAI VOCÊ. Lembrou-se da conversa que teve com o rapaz, que saiu dois anos depois da cadeia. Chegou a seu ouvido e falou; vou te dizer três palavras: nunca abra a boca. O rapaz olhou nos olhos do policial e falou bem próximo ao seu ouvido; vou lhe dizer três palavras; VOCÊ VAI MORRER. Não ouve reação à frase curta e decidida do rapaz, que parecia ter um plano. Não no momento. Mas quando virou as costas da delegacia, foi até a casa do rapaz – que ele já sabia antes onde seria – e jogou uma bomba caseira que explodiu a casa e matou um rapaz. A explosão destruiu completamente o corpo do rapaz, que teria sido atingido em cheio. O policial assumiu o caso, pegou o corpo do rapaz, antes da perícia e cremou, jogando as cinzas na lagoa. Pronto! Matara o rapaz que o ameaçara. Matava todos que o ameaçavam. Se seu filho – ele não tinha filhos, então é apenas uma suposição – o ameaçasse, ele também o mataria sem remorso. Não sabia o que era remorso. Não sentia culpa, medo, dor, mas sentia um frio inesperado ao olhar o rapaz que continuava andando lentamente, por culpa de sua mente que estava embaraçada tentando entender o que acontecia. A mão cortada não era do rapaz que morrera, pois ele mesmo cremou o corpo, e os dedos voaram por toda parte. Aquela era uma mão simbólica. Então percebeu seu erro. Não havia verificado o DNA do corpo que cremou no dia do incêndio, quando assumiu o caso e disse que a casa explodida havia sido do ex-presidiário que acabara de sair da cadeia, e que era um acerto de contas entre os bandidos da região. A especulação foi geral entre os moradores, pois todos sabiam que havia um jovem lá dentro, mas o policial negou que houvesse qualquer pessoa dentro da casa na hora da explosão. Agora entendeu que não era o rapaz que havia matado. Era outra pessoa que morreu naquela explosão que ele provocou para matar o homem que ele havia destruído a vida e jogado na cadeia, e que o ameaçara. Agora se sentia impotente diante da possibilidade de ter sido enganado, mas o rapaz ainda estava passando em câmera lenta, chegando à outra ponta da esquina, com o olhar fixo no policial que olhava tanto para a mão quanto para o rapaz. De repente, da mão, piscou uma pequena luzinha vermelha. O policial olhou e se agachou para ver. A mão com três dedos tinha um pequeno buraco com uma pequena luzinha vermelha no centro. Não era uma mão de verdade! Era uma bomba! Então entendeu rápido; era pra prestar atenção do lado da seta enquanto a bomba seria ativada e explodiria os policiais. Ela piscou novamente e o policial reconheceu o tipo da bomba; ela piscaria uma terceira vez e explodiria. TRES DEDOS. Era isso! O rapaz lhe dera a chave! É uma bomba, gritou ele. A seta era pra onde deveria ser jogada a bomba, pois não haveria risco de machucar ninguém. Então o mais rápido que pôde pegou a mão e jogou em direção a rua e em um segundo a bomba explodiu antes de cair no chão. Pessoas gritaram de medo, outras correram, “foi por pouco” pensou o policial. Mas ainda não havia acabado. Olhou para o rapaz e o mesmo sorriu. Foi o prazo curto de olhar para o chão, ver uma granada rolando por baixo da viatura e parar no local onde estava a mão para o policial entender; tinha em sua política a seguinte frase; SE APONTAREM UM DEDO EM SUA DIREÇÃO, HAVERÁ TRES APONTANDO PARA VOCES. Ou seja, ele viu a seta apontando para um lado, mas não viu que os três dedos da mão apontavam para o outro lado. Viu depois que já era tarde, apenas a marca dos três dedos no sangue, apontando em direção contrária à seta. Olhou para o rapaz. Havia sido enganado com seus próprios princípios. O rapaz tirou a mão, que só havia três dedos do bolso e o cumprimentou; Saudações! Bem - vindo ao inferno! Com um olhar simples, finalmente parou de andar. Já estava em certa distância e podia admirar.
O policial entrou em pânico; três erros cometidos em toda sua vida, dois dedos cortados, três palavras escritas ao contrário, dois anos de prisão, uma seta, um homem, uma vida, uma guerra, um desejo de vingança concluído. Bummmmm... A bomba explodiu e lançou o policial para longe, sem as duas pernas. O rapaz admirou, sem reação alguma. Não era suficiente. Quando a bomba explodiu, lançou os policiais longe, mas o policial, lançou perto da esquina, ele ficou em estado de choque ao se ver sem pernas, sangrando e olhou para o jovem. O mesmo não teve reação. Mas o impacto da explosão fez explodir um dos carros, e como ambos estavam juntos, um explodiu e em seguida o outro também explodiu e foi lançado em cima do policial que morreu esmagado pela viatura. O rapaz virou as costas e foi embora. Já havia cumprido sua missão.
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