quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Abraçada pelo Senhor - Kássio





       Belas são as luzes dos teus olhos ofuscando os meus. Tua fragrância se destila ao compasso das brisas. Teus cabelos longos se camuflam às ondas do mar que, aos poucos se espreita ao encontro das areias. Tua voz, bate ao meu coração frio e o esquenta em fervura de autoflagelos. Teu espírito se mostra eficaz à minha especulação, visto que dentro do que espero de ti, és para mim a expressão do que amo. Entre teus afagos, me perco em dessabores, porque a distância me castiga, e as horas me embriagam de ilusões. Ao pé da minha cama, está o chão que sustenta meu corpo, mas minh'alma está ao léu: como um barco sem leme, uma pipa com abundâncias de linhas em dias de ventos fortes. Meus olhos se incham em choros controversos e ensaiados; dois a dois, compartilham em si mesmo a angústia de viver seu teu amor. Meu coração se amalgama em pensamentos de bem, porque pacientemente espero por você. Sofro segundo em segundo, esperando palavras serem balbuciadas da sua linda boca, que um dia beijei. Em pensar que um dia tive você aqui, duplamente presente: em meu coração e diante dos meus olhos; mas te perdi, enquanto tentava me encontrar, e quando me encontrei, descobri que era você o tempo todo, quem fazia o meu mundo só nosso. Te amo, para sempre.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Uma paz - Kássio Rodrigues



    Peregrino neste mundo; inconfortável às tendências dele. Sem grandes sonhos que venham a exigir de mim uma entrega nesta vida. Sem interesse em ser reconhecido, aliás, meu estilo de vida já se encarrega de me tornar desagradável a muitos, e talvez isso seja o mais perto que consiga chegar de ser visto. Mas algo tenho que poucos vão entender: uma ''paz''. Não me refiro àquela paz de ter suas contas pagas, ou de ter batido sua meta na empresa, mas àquela de entender que minha vulnerabilidade em estar neste mundo e que posso me frustrar com ele a qualquer momento, SE DISSIPA, apenas quando me lembro que estou salvo, e essa salvação está penhorada em meu Senhor, que me amou quando ainda era um pecador condenado.

Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vô-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. João 14:27 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Amor eterno (Kássio Rodrigues)


     Teus aromas entregam teus medos, tua falta me faz prisioneiro de fogos. As entranhas da tua simplicidade faz meu olhar sangue à amostra. Teu corpo é para mim parte do meu, e acréscimo  a mim mesmo dos meus anseios. Escondi teu sabor às minhas veias, fiz-me coeso em versos de solidão, coube-me bem teus cabelos ao meu peito, rente ao que espero de teu afago. Paguei alto preço pela tua voz, mas a desdenhei à medida que me perdia no meu eu. Teu amor é para mim como um sonho da alma, como a expectativa de uma vida, que não soube cuidar. Como o pôr-do-sol depois de ter mergulhado em tua boca. Volte aos meus átrios, pois estou enfermo de amor.

sábado, 24 de novembro de 2012

Acaso (Kássio Rodrigues)


   
       Em qual parte da história da sua vida você está vivendo hoje? Começo, meio ou fim? 
      O começo veio do acaso, ou pelo menos é assim que os homens chamam o nascimento... O meio, das circunstâncias; sobre qual alicerce foi criado sua personalidade? Ou ela ainda está sendo formada... O fim... na verdade é só esse que conta. Mesmo isso sendo um clichê, essa é a única parte da vida, onde as noites têm um tom de "porquês", e às manhãs, vêm pelas horas, tons de respostas. Ainda há tempo de fazer acontecer! Tudo é passageiro, e a luta por continuar vivendo traz em si ofegantes descobertas, destilantes encobertas. 
    Diz-se as más línguas, que vez ou outra, nos perdemos em nós; o espelho nos assusta, por não trazer boa nitidez à nossa personalidade, mas acalme-se! Basta cada dia o seu mal, e se hoje dores se acrescem, amanhã o sol brilhará mas não queimará.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Texto de Kássio Rodrigues


Depois dos olhos, vêm a esperança. Uns creem em estátuas, outros em sapatos; mas todos ainda estão longe. Quando à alva avista-se de longe a beleza crua do surreal, não entendem bem aonde chegar; por que chegar. Mas parar ou encolher, ou até mesmo morrer, é tão insignificante quanto nossa existência no universo febril. Rosas brancas são as minhas preferidas, não se submetem ao que lhe propuseram, porque ainda tenho dedos de carne, que se machucam com os espinhos, pés; feios, mas são pés, que me fazem sentir a frieza da terra.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

PEGADAS (Kássio Rodrigues)



Um vento minuano acariciava seu rosto, e lhe tampavam as vistas à medida que andava, por causa de seus cabelos encaracolados. Primeiro, quis sentir nos pés o gelado da água marítima, que dançava em ritmos beethovenianos; para lá e par cá. Seduzindo sua língua a provar o gosto dela; assim o fez, mas se arrependeu, pois o gosto não combinava com sua bela cor. Ao Longe, era possível ouvir o ''Tsiiii'' do sol se esfriando na água. Uma ousada onomatopeia do destino, que lhe causavam vastas imaginações às tardes no por-do-sol. Ainda andando em linha horizontal, o silêncio era mantido pela própria natureza, porque mesmo sendo uma sinfonia de várias faunas e floras, elas de tangiam formando uma espécie de ''música para os meus ouvidos''. Apartando dois metros andando ''em forma de caranguejo'', seus pés se deliciavam com ''cosquinhas'' delicadas da areia ainda quente. Enquanto o quente sol se escondia no mar, a fria lua tomava frente; parecia manchada ou furada, mas sua frieza traz calor, assim como o sol, que no seu calor, traz frieza ao coração dos homens cegos. Ao longe, lá estava seu coração; em formato e singeleza de alma, cantando e assinalando paixões no ar. Encontrar-se assim, é como um sonho. Acordar assim, não vale a pena.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

SOZINHO (Salomão Moura)





No amplexo da escuridão,
minha mente, moldada como foi pela experiência humana, tenta compreender o conceito
fundamentador de minha solidão.
Meus olhos, supurados em trevas que até mesmo os mais ousados
deuses abominam contemplar, lançam corpo adentro, buscando um processo de luz
para ceder a noite que me habita, e enquanto me
arrasto para fora de mim mesmo, amedrontado diante da estranha e nova
luminosidade, consigo ouvir acima de minha cabeça, ecoando nos topos rugosos
das montanhas...
Uma gargalhada!
Uma gélida e negra gargalhada de um ser
completamente imerso no universo das ironias.
Minha recente manifestação de luz extraiu de alguém versado
nas artes da frieza aquele riso devastador. Mas não interviu.
Longe de mim, a vontade de conhecer a proveniência daquele incomodo sarcástico. Apenas irei empregar meu recém-manifesto "poder da alma" para encontrar no
próximo, aquilo que não encontrei dentro de mim, mesmo tendo conhecimento de que algo ruim estará a espreita.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Museu de carne - Kássio Rodrigues

Somos 90% de nostalgias, e 10% de frustrações.
Um mundo coletivamente criado, pequenos retalhos, todos pintados, de acordo com a condição de cada um, e cada um reclamando dos feitos do outro, quando não pôde fazer melhor em seu retalho.
Meu ''eu'' me repreende quando sou ''outro'', meu ''outro'' me assassina quando sou ''eu''
Cada um mora onde a vida lhe causou, o lugar onde dorme diz muito de quem você é. A voz altiva na hora das discussões, e o olhar calmo na hora da paixão, cantam uma pedra sobre você; viver do passado é como se tornar um museu, mas sem ter lucro nenhum.

sábado, 3 de novembro de 2012

Encontro - Kássio Rodrigues

Vendo-a assim, valo-me dos meus orgulhos, vendo barato meus ouvidos às músicas nostálgicas, fantasio meu cérebro de emoções não vividas, até que me recalco de realidades; eis então a questão: Voltar atrás é preciso, ou apenas mais um dos meus zelos?


 Por um amor incondicional, retraí minhas forças a zero, subtraí meus pesadelos a nenhum. Às escondidas, marquei contigo um encontro, vesti minha melhor roupa, andei por pregos talhos, para ao entardecer, no calar da velha estação, nos trilhos, lhe encontrasse; vendida à amargura, e lhe comprasse, não com flores amarelas colhidas no caminho, mas com meu calor.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Mesa com pregos - Kássio Rodrigues

Ainda estamos aqui mamãe;
Essas foram as palavras do Baltasar, um homem feito, 42, barba por fazer, olhos fundos de noites mal dormidas; sonhando às asas do vento, comendo o pão que o diabo amassou.




Ainda suspirando alto, viu-se no semblante de Maria francisca, a amargura de toda uma vida de ilusões, promessas, mas que lhe deram decepções e frustrações. Uma conversa face a face, sobre a mesa de madeira, que machucavam os cotovelos, pelas pontas dos pregos que já ousavam sair ao comando do envelhecer. Tudo sobre a ela: Olhos famintos pela verdade, cânticos presos à garganta, querendo ser liberados por dotes de fraternidade. Uma ceia; de natal! Onde as coisas se acalmavam na infância, já que o papai-noel travestido de ''amigos'' vinha às escuras trazer o pão da manhã, e esse era a maior das alegrias; almas fartas pela companhia sincera de nove irmãos mais a mãe solteira, combinado à barriga cheia pela comida que alimenta homens cruéis e esquecidos pela felicidade. Ainda sentindo o frio da manhã de natal, fiz-me resto; histórias contadas e relembradas; nem todos estavam ali; dos nove irmãos, dois já haviam sido tragados pela terra, outros dois cruzaram os sete mares buscando se encontrar, se perderam na terra do nunca. Outros, adotados pela discórdia, se embebedaram de vinho doce, e se esqueceram das teias que os levavam sempre a mesma casa; de tijolos furados, com um pouco de chapisco para esconder a frieza das paredes, dois quartos; um para os homens, e outro para as mulheres, na sala, que dividia espaço com a cozinha, a mesa velha de madeira, que marcava cotovelos de quem ousasse usá-la, sentando-se em alguns dos dez tamboretes que lhe rodeava; pregos desnivelados que me lembram a dor Jesus na '' via crucis''. Bem, estavam todos lá, alguns na lembrança, outros na ignorância, mudaram por causa das leis da vida, mas são trazidos à memoria a medida que vêm a antiga e mesma dor dos pregos enferrujados.

Casa velha, em ruínas - Renato Russo


(Kássio Rodrigues)

Dá pra acreditar na conveniência do ser humano?
São entregues a paradigmas por preguiça de ir atrás da verdade, mas quando lhes convêm, lutam até o fim. O pior de tudo, não enxergam um palmo à sua frente, ou pelo menos não querem enxergar. Resumindo: quando lutam, estão lutando por uma coisa que nem sabem ao certo a real necessidade de manter sua existência, tudo porque quando chegaram lá ou aqui, todos já agiam assim, então por quê mudar? Admiro pessoas que usam o próprio cérebro, ao invés de usar o cérebro dos outros...
(Kássio Rodrigues)



Força-os à caminhada do desespero, desacredita-os da benevolência do acaso, limita-os àqueles sonhos de criança. Faça-os machos de uma mulher só, e andarilhos entre espinhos de pés de limão,

Crentes às nuvens escuras, descrentes ao esplendor do sol. Naquela manha nublada, ligue os faróis do carro, em alta velocidade, esconda os seus medos no porta-luvas, abra-o com a mão direita sem perder a direção, eis-me aqui, ó morte, pronto para viver!

Acordes - (Salomão Moura)

 Acordes


(Salomão Moura)

 Notas nos meus ouvidos, doces canções tocadas pelos anjos para me dopar, me embriagar,

O sol desce quando você sobe dedilhando com velocidade, modelando os pássaros, o sol, a lua e as estrelas, o mundo para de girar. As guerras se seguem com mais esperança de vencer, ouvindo esse som perfeito que sangra dos seus dedos.

As mulheres se embriagam com seus doces e pecaminosos solos, se jogam ao ar quando te ouvem, se excitam se sufocam!
Os músicos gritam canções, enquanto você se espalha pelo mundo, os escritores arrancam seus próprios corações e colocam no papel para expressarem esses sons que aguçam os sentidos.

Você bagunça o universo enquanto corre sobre as cordas, fazendo uma batalha de dedos, e quando você termina, o mundo fica colorido..., Contorcido..., renovado...

(Salomão moura)

 

No começo me assustei; pois de costas ele era apenas um vulto que tomava forma.

E eu sabia quem era, pois eu mesmo o me desafiara.

Só não esperava que sua ira fosse tão grande, ao passo que pouco a pouco, sua fumaça cinza se transformasse em algo palpável, sólido e firme.

Lá estava ele; não pude evitar olhar em seus olhos, que por ironia de sua imaginação, eram meus olhos, com uma diferença no vermelho, que resplandecia em ódio e fúria.

Não tive medo, embora pudesse sentir o arfar demoníaco daquele ser que transformava em mim para me confrontar.

Ele me queria como desejara aquele momento, ansiava minha completa destruição,

Nunca pôde me tocar nunca pôde me atacar, só podia me olhar e esperava que eu tropeçasse em minhas idiotices, mesmo assim não conseguia nada, mas naquele momento, percebi que ele poderia me atacar, e estava pronto para vir – O que fiz? Por que ele está aqui?

Não importa, ele estava lá, e ansioso para me confrontar, com paciência, apenas largou o prato e a bucha que ela usava para lavar as vasilhas, limpei o sabão das mãos, dei um sorriso e tive o confronto que tanto desejara, em todo esse tempo de minha miserável vida.

(Salomão Moura)

 

Não me espere hoje meu amor

Hoje não volto pra casa

Hoje não volto pros seus braços

Neste momento estou planejando meu caminho

E talvez essa seja a última lembrança que você terá de mim

Sei pra onde vou! Irei sem medo e não voltarei mais

Mas não chore. A culpa não e sua

Se todos ao meu redor fossem iguais a você,

Mas infelizmente só você me entende... Quero que entenda isso também

Esse e meu ultimo adeus. Eu te amo e prometo te amar onde quer que eu esteja

Mas não me procure, pois não me achara em lugar nenhum.

Pode achar meu corpo perdido em algum lugar, mais nada, além disso...

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Pobres por tanto dinheiro - Salomão Moura

Pobres por tanto dinheiro
(Salomão Moura)
Esqueci-me quem sou completamente
Meu corpo de serpente,
Meus dentes de ouro com pontas de marfim
Tenho veneno em mim.
Que sangra pelos olhos e queima pelo corpo até adormecer
Acordo em uma cama com pétalas de flores endurecidas pelo tempo
Espinhos no colchão que não me causam dor,
Meu corpo está vazio e não posso me sentir
Acho que perdi a minha essência com tudo que ganhei.

NOSTALGIA - Kássio Rodrigues

NOSTALGIA
(Kássio Rodrigues)
Pego de surpresa, deu um grito:
- Aonde você pensa que vai, e me deixar aqui depois de tudo?!
O silêncio permaneceu no alpendre, fortes pingos d'água fortaleciam a sensação de ilusão. Quase não acreditava no que ouvira, além de vir do quarto dos fundos, aquele som meigo, de uma criança que acabara de ter um pesadelo. Acompanhando as batidas fortes do coração, uma goteira que molhava a entrada da sala. Tudo era tão nítido, que se podia entender como são criadas as nostalgias: um pouco de intensidade, uma boa ou má notícia, o silêncio quebrado pela voz do coração, e uma verdade desmascarada ou encoberta. Hoje não é hoje, hoje é aquele dia frio de primavera, onde a estiagem dá um sossego, e entra em cena o sono da solidão, que se fez dormir, pelo simples motivo de estar chovendo.

O HOMEM MAIS INVEJOSO DO MUNDO - Kássio Rodrigues

O HOMEM MAIS INVEJOSO DO MUNDO:
(Kássio Rodrigues)




Avistei ao longe um pássaro; coroado por belas plumas banhadas pelas cores do arco-íris. Nessa vista, ele acariciava seu próprio corpo como um acréscimo dizendo não à censura da vida, e pranteando, levantava seu bico ao alto, repetindo uma canção triste insistentemente. Fissurado pela supremacia daquele animal, num piscar de olhos, fui surpreendido pelo seu voo. Quis então ser igual a Ele.
No outro dia, ainda chamado àquele fato oriundo de algo pré-ciente de perfeição, saí às florestas, e me deparei com um tatu: com seu focinho sujo de terra, se assustou com a minha presença, talvez porque estivesse vulnerável, ao contrário do pássaro, que ao alto, se exibia, sabendo que não o alcançaria a tempo caso resolvesse subir na mangueira. Mas, não queria isso, pelo contrário, me dava por satisfeito só por vê-lo ali, em seu habitat natural. A paisagem não durou muito, já que enquanto era tomado por pensamentos, foi a deixa para que ao piscar dos meus olhos, novamente outro animal se escondesse, nesse compasso, também me assustei; ouvi uma voz que gritava: - Onde está você, não vá longe!
Tinha três anos no fato, mas já sabia da existência de um Deus, a natureza me dizia isso!

Outras boas vistas se sucederam aos outros dias, e pude entender a magnitude de tantos adjetivos que eram exibidos por tantos animais diferentes, mas porque sempre têm de se esconder?
Tornando-me homem feito, hoje os entendendo! Sim, hoje entendo o porquê de estas graciosas criaturas esconderem suas exuberâncias: Por causa do meu genérico de homem. Esse ser, dominante sobre a terra, a muito vem se deturpando pelo campo, conceituando habitats naturais como se fossem dele. Por quê? Por inveja! Olhe ao seu redor: carros já correm mais que Leopardos, aviões, apesar de tão pesado, voam mais que gaviões, escavam buracos com a mesma facilidade de trocam de parceiros. Criam edifícios altos, alterando as paisagens de vastas faunas e floras, por puro egoísmo, apontam armas às cabeças de leões, como símbolo de rendimento: - Sou o novo Rei da Selva. Seria possível apenas plagiar suas habilidades sem ter que destruí-los? Devo lembrá-los que a voz de Deus foi para ''Dominar'' que tem um sentido quilometricamente diferente de ''Destruir''.

VELHO BATOLOMEU - Kássio Rodrigues

VELHO BATOLOMEU
(Kássio Rodrigues)
Entre novos e velhos móveis, submergia às ruínas, o esplendor do sol, que há muito não aparecera.
Acompanhando o momento ténue, uma visão linda de verde entrava às escuras no vidro quebrado dos transparentes,
O olhar cansado sobreposto aos óculos tortos se alegrava como nunca, pois há anos a solidão se fazia o melhor amigo.
Tal evento, só foi possível graças à visita de alguém; mesmo com dificuldades na fala, o olhar meigo e submisso do velho agradecia ao neto, como uma criança pelos presentes.
Segurando-o nos braços, aquele jovem sufocado de sonhos, se sentia bem em acolher o avô, mesmo sendo aquele o primeiro encontro dos dois.
O cheiro de mofo na casa ultrapassava as fronteiras do admissível e, mesmo sendo aquele senhor um trabalhador assíduo durante sua jornada juvenil, e nunca ter deixado faltar o fubá à mesa dos filhos, aguardava ao lado do seu fiel amigo, a solidão, a morte do corpo. Filhos, eles estão vivos - mas só na lembrança do velho Bartolomeu -, que hoje celebra sua inglória de não poder andar, e se arrastar pela casa em busca dos remédios e comida. Mesmo motivado pelo desespero, ainda queimava ao coração um sentimento de amor incondicional às crias que hoje são ocultas, mas que foram gerados pelo ardor do seu amor.
Pensando bem, o jovem levou os dedos aos olhos, enxugou as lágrimas que involuntariamente surgiam, e beijou seu avô. Sua mente era tomada por pensamentos de morte, ao mesmo tempo em que se culpava pelo estado de Bartolomeu - Mas a culpa não é sua, disse o ancião. Tudo parecia um sonho: a casa foi limpa, os móveis restabelecidos à clareza, as janelas abertas e, por último, um calor que não vinha de cobertores, abraçava o velho por trás enquanto este se acomodava no sofá de couro rasgado. Como um pedido de desculpas, os dedos do neto ajeitava travesseiro à coluna de Bartolomeu, como outro pedido de desculpas, o velho levou a mão ao braço do neto enquanto isso acontecia, tentando balbuciar alguma palavra curta, fechou os olhos para sempre.

BALÃO DE SONHOS - Kássio Rodrigues


BALÃO DE SONHOS
(Kássio Rodrigues)
Abram-se as portas, formem filas; um a um, peguem seu balão de sonhos; segure-os firmemente, ao meu comando, esqueçam a lei da gravidade. De olhos bem fechados, voem!
Lá em cima, já podem abrir os olhos, vejam quem são as pessoas por trás dos ternos, usufruem desta condição! Você está por cima! Eles estão por baixo, aguardando chegar sua vez... Continue subindo, sua condição de estar aí, e tão vazia quanto o balão que te leva! Opa! Espere! Não se pode ficar assim muito tempo!
Acho que você está caindo... Seu balão estourou! Poxa, mas que queda feia!
Levante-se, sacuda a poeira, e volte ao final da fila.

Retrospectiva à perspectiva - Kássio Rodrigues

Retrospectiva à perspectiva

(Kássio rodrigues)

Vista-se de conveniência: calce sapatos com cadarços; eles ajudam na hora que as coisas afrouxam. Nos pulsos, um relógio de marca com ponteiros brilhantes, mas não aconselho que ele seja verdadeiro.
Ao dedo anular da mão esquerda, um anel de ouro; superficialmente ele representa um amor conquistado que resultou em um casamento, mas não se ilude ao pensar que tudo é da forma sonhad
a.
Calças listradas; passam uma boa impressão de organização; um Pai com voz autoritária, a filhos submissos!.... Camisa branca, com botões dourados e costurados à mão, que lhe custaram o olho da cara, mas que combinam com aquela gravata escura. Ao jogar por cima o tão afetivo terno, que emana uma forte impressão de riqueza, sente-se com calma na beirada da cama e continue longe de tudo! Mas de tudo mesmo!Não se esqueça do beijo antes de sair, caso lhe peçam alguma coisa além disso, depois mande a conta ao meu escritório.