Se houvesse composições em meus sentimentos, tais se
ilustrariam pelo farfalhar de um vento invisível que se choca contra as
montanhas de pedras
Capaz de dilacerá-los pouco a pouco. A cada sopro fino,
esfarelando lentamente; ironicamente transformando grandes rochas em pequenos grãos
de areia que se misturam à sua forma
Transformando-se em um vento mais potente.
Se houvesse algum som em meus sentimentos, seria como um ruído
estridente de um pequeno redemoinho que sai da montanha para brincar nos campos
duma aldeia
Carregando consigo a poeira, folhas secas e outros
componentes de chão sujo; querendo ser mais do que ouvido.
Se houvesse composições em meus sentimentos, tais seriam com
a roda seca dum redemoinho
Que se une a outros mais belos; aos animais mais fortes e os
tempos mais misteriosos, sem entender a dor que causa a quem está em seu
interior
Mas que, pouco a pouco, sente a culpa pesada dentro de si.
Se houvesse algum som em meus sentimentos, seria como um
grito assustador de um furação que sente culpado por seu fracasso;
Por não poder ser o que era, pois se tornara amargo, a ponto
de se unir a ventos fracassados que não podem tocar o céu sem estar firmemente
pregados ao chão sujo,
Por destruir toda a vida à sua volta, pelo egoísmo de querer
ser grande.
Se houvesse composições em meus sentimentos, tais se
ilustrariam como um furação, que depois de horas vai expelindo aos poucos as
cinzas do que restou da sua destruição;
Abandonando tudo que despedaçou; entendo que nada daquilo
deveria fazer parte do seu interior, nem mesmo os ventos, dos quais se uniu.
Aos poucos vai jogando casas destroçadas, árvores
destruídas, animais mortos e tudo arrastou consigo, pelo mero prazer de
arranhar o céu.
Se houvesse algum som em meus sentimentos, seria como o som
de uma brisa fina, que se desloca de um furação reconhecendo sua simplicidade;
tristemente arrependido, depressivamente saudoso, que decide voltar às
montanhas que lhe acolheram, evitando machucar as rochas, antes feridas e amedrontadas,
temendo ser machucadas novamente pelo seu sopro irônico;
Seria com se o som de uma brisa fina que decide deixar as
montanhas pra sempre alegrar os moinhos de uma fazenda
Se pudesse comparar meus sentimentos, os compararia à brisa
que diverte os moinhos de uma fazenda, e, que balança as folhas de uma árvore,
dando vida e movimentos, que diverte pássaros
E as pipas que voam ao seu favor.
Que brinca com as folhas secas caídas, dando-lhes sensações
de vida própria, que brinca com a flor, levando longe seu perfume, que passa
pelas águas cristalinas e lhes dá o som perfeito
Que passa pela grama e lhes faz cócegas, que une a todo ser
que respira, permitindo-lhes a pureza do ar fresco, que abraça todas as pessoas
tristes ao seu redor, com leveza, secando lágrimas e proporcionando um arrepio
gostoso; arrancando deles um sorriso de esperança.
Uma brisa que, com o tempo, ganha o céu de presente e se
torna o vento mais puro e o mais forte de todos; capaz de dançar com as nuvens
e mudar suas formas; capaz de descer ao mar e sacudir suas águas mais pesadas
e, ajudar marinheiros a chegar em suas casas sem perigo. Um vento puro que
apesar de invisível, deixa saudades no coração de quem o sentiu.
Por Salomão Moura